beirei fachadas
dei para naturezas mortas
fiz jejum de palavras
compus silêncios
nesse lugar algum
entre a lagarta e a borboleta
velei papéis em branco
bandeirinhas desbotaram
recolhi os passos
migrei para outras estações
encontrei destinos
prejuízos somei
estrangeira de mim eu fui
contei-me mentiras
não tive sacramentos
nem perdão
II
chego à arena sem fôlego
tudo em volta é espelho
finjo-me sã
arranjo os cabelos
passo o batom
ajeito o sutiã
alinho o vestido
bato a poeira
desertos em mim
fora os trilhos
e seus dois sentidos
talvez um trem a passar
uma cidade próxima
um vilarejo
talvez um lar
III
prossigo no meu encalço
eu e minha sombra a me precisar
enquanto não me enlaça a morte
o destino, comigo, põe-se a dançar
o destino, comigo, põe-se a dançar
crescem meus cabelos
como desejos de além-mar
como desejos de além-mar
Acordam os meus olhos