no princípio, era a brisa
a provocar espirros em Isa
a provocar espirros em Isa
veio o vento e levou o
jornal que Lia lia
atrás dele, a ventania
implicar veio com as
madeixas de Maria
o vendaval, pai da brisa, do vento e da ventania
deslocou-se até àquelas cercanias
deslocou-se até àquelas cercanias
bravo, queria acabar com tanta rebeldia - Que ironia!
naquele quintal, só
conseguiu arrancar roupas do varal
os vestidos de
Isa, as saias de Lia e os véus
de Maria
foram parar no olho do furacão
foram parar no olho do furacão
junto às meias e ceroulas
do João
furioso, o furacão furou o
chão até o Japão
onde o tornado - seu
primo irado
já arrancava telhados
e quebrava galhos
soltando relâmpagos e atirando raios
assim chegou a tempestade - mãe de todos os ventos
assim chegou a tempestade - mãe de todos os ventos
rios e mares transbordaram
ruas e praças alagaram
ruas e praças alagaram
seu meio-irmão, o trovão, pôs-se a trovejar
sempre
atrasado, coitado, sofria de rouquidão
lâmpadas
estouraram, pessoas se assustaram
debaixo da
cama e dentro do armário, crianças se guardaram
animais se amedrontaram
em disparada,
corriam e voavam pra todos os lados
a terra tremeu
e as águas chacoalharam
escondidos no
charco, rãs e sapos coaxaram
zebras
relincharam, elefantes bramiram, baleias rufaram
bezerros
berraram, leões rugiram, cães ladraram
papagaios tartarearam,
araras grasnaram e corujas piaram
abelhas
zumbiram, grilos tritrilaram, cobras sibilaram
andorinhas
chilrearam, bem-te-vis assobiaram, rouxinóis gorjearam
peixes
roncaram, lobos uivaram e emas suspiraram
foi quando
o dia virou noite e a noite virou dia
o futuro
chegou, o presente passou e o passado apagou
transtornado,
foi-se o tempo, levando consigo as horas
e o relógio, agora, parado, sonha despertar a nova aurora
naquele quintal, onde
tudo começou
foi lá, também, onde o
mundo quase acabou
salvo por uma
frondosa mangueira, que teimosa resistia
com seu
estandarte verde-rosa, em pé se mantinha