5 de nov. de 2011

Fim dos Tempos


no princípio, era a brisa 
a provocar espirros em Isa
veio o vento e levou o jornal que Lia lia
atrás dele,  a ventania 
implicar veio com as madeixas de Maria
  
o vendaval, pai da brisa, do vento e da ventania
deslocou-se até àquelas cercanias
bravo, queria acabar com tanta rebeldia - Que ironia!
naquele quintal, só conseguiu arrancar roupas do varal

os vestidos de Isa, as saias de Lia e os véus de Maria 
foram parar no olho do furacão
junto às meias e ceroulas do João

furioso, o furacão furou o chão até o Japão
onde o tornado - seu primo irado
já arrancava telhados e quebrava galhos

soltando relâmpagos e atirando raios
assim chegou a tempestade - mãe de todos os ventos
rios e mares transbordaram 
ruas e praças alagaram

seu meio-irmão, o trovão,  pôs-se a trovejar
sempre atrasado, coitado, sofria de rouquidão
lâmpadas estouraram, pessoas se assustaram
debaixo da cama e dentro do armário, crianças se guardaram

animais se amedrontaram
em disparada, corriam e voavam pra todos os lados
a terra tremeu e as águas chacoalharam
escondidos no charco, rãs e sapos coaxaram

zebras relincharam, elefantes bramiram, baleias rufaram
bezerros berraram, leões rugiram, cães ladraram
papagaios tartarearam, araras grasnaram e corujas piaram

abelhas zumbiram, grilos tritrilaram, cobras sibilaram
andorinhas chilrearam, bem-te-vis assobiaram, rouxinóis gorjearam
peixes roncaram, lobos uivaram e emas suspiraram

foi quando o dia virou noite e a noite virou dia
o futuro chegou, o presente passou e o passado apagou
transtornado, foi-se o tempo, levando consigo as horas
e o relógio, agora, parado, sonha despertar a nova aurora

naquele quintal, onde tudo começou
foi lá, também, onde o mundo quase acabou
salvo por uma frondosa mangueira, que teimosa resistia
com seu estandarte verde-rosa, em pé se mantinha